Nádia Gonçalves

A cada dia cresço, esclareço e me transformo em prismas de puro brilho essenciais à minha alma.

Textos

Um Encontro Inesperado
Entrei já atrasado no avião. O trânsito infernal quase me fez perder o voo. Por alguns minutos cheguei a tempo. Como perfeccionista e metódico que sou estava irritado pelo  atraso. Pensei que aquela viagem  já estava começando mal. Quando cheguei ao meu lugar percebi que tinha uma mulher ao meu lado. Mas a principio estava muito irritado para prestar atenção nela. Eu ajeitei minha bagagem de mão e quando ia sentar reparei naquela mulher. Eu não acreditei na minha visão e olhei novamente e ela sorriu. Quando ela sorriu eu não tive mais dúvida. Aquele sorriso era inconfundível e único.
Num segundo tudo passou por minha mente.
Eu a conheci em uma festa de confraternização de fim de ano. Eu era superintendente e sempre passava pelas confraternizações para marcar presença, embora eu considere que estas festas são muito chatas.
Quando eu fui cumprimentar um dos meus assessores, que estava trabalhando comigo há pouco tempo, ele me apresentou a esposa e ela abriu um sorriso largo e lindo que me encantou. Era o sorriso mais lindo que já vi. Além do mais, isto pode parecer machismo e pretensão minha, eu pensei que com aquele sorriso ela estava dando mole pra mim.
Fiquei ali por perto mais tempo que eu costumava ficar nestas festas. Olhava pra ela e reparava minuciosamente em sua beleza. E ela nem reparava que eu estava ali. Fui embora frustrado mas nunca a esqueci. Aquele sorriso e aquela linda imagem de mulher ficaram gravados indelevelmente em minha mente e alma. Eu fiquei tão encantado com ela que algumas vezes e de maneira pouco ética, por pura inveja, eu persegui  e  prejudiquei o seu marido.
E alguns anos se passaram.
Agora eu estava ali diante daquela linda mulher. Olhei procurando pelo marido dela.
Ele não estava ao alcance da visão. Eu sorri pra ela e disse:
-Acho que lhe conheço. Você não é a esposa do Artur?
-Meu ex-marido se chama Artur.
-Ex-marido? Vocês se separaram?
-Sim. Há mais de um ano. Você conhece o Artur?
-Sim. Nós trabalhamos juntos um tempo. Depois ele se transferiu.
-Não me lembro de você.
Eu não acreditei no que ouvi. Mas foi um balde de água fria ela dizer que não  lembrava de mim. Eu também estava divorciado há quase um ano. Por dentro eu sorri.
-Sinto muito.
-Quando uma separação chega a acontecer não é preciso lamentar.
-É, eu sei. Também divorciei há algum tempo.
Ela não respondeu como se aquilo não tivesse a mínima importância para ela. Eu fiquei calado.
Quando começaram as instruções e o preparo para o voo senti que ela ficou um pouco agitada. Olhei pra ela que disse:
-Tenho pavor de voar. Eu sempre me sinto tensa e insegura.
-Não tem motivo pra ter medo. É só prestar atenção às instruções.
-Pra falar a verdade eu nem consigo ouvir o que dizem de tão tensa.
Sorri pra ela e disse:
-Fique calma, se precisar eu lhe ajudo.
Ela sorriu com aquele sorriso encantador de volta.
-Na hora da decolagem ela sem perceber segurou meu braço.
Eu olhei e senti um certo prazer naquilo. Ela sem graça me soltou e ofereci minha mão:
-Segure minha mão se isto lhe deixa mais confiante.
Ela pegou minha mão e apertou. Sua mão estava gelada. Aquele contato me deixou perturbado.
Perguntei  se ela também estava indo para o Chile e se estávamos no mesmo grupo. Pra minha surpresa ela disse que sim. Não estava nem acreditando que o acaso me proporcionou esta grata surpresa. Eu esperava ter a chance de conhecê-la melhor e quem sabe poderia rolar alguma coisa que eu esperava por tanto tempo.
Depois de algum tempo, já mais calma e com um voo tranquilo, ela adormeceu. Aos poucos sua cabeça foi chegando para o meu lado até ela recostar em meu ombro. Numa demonstração inconsciente de confiança ela dormia calmamente recostada em mim.
Mais tarde ela acordou e se assustou por estar encostada em mim. Pediu desculpa e ficou sem graça. Eu disse que não me incomodou e que eu até gostei.
Conversamos banalidades, falamos sobre o fim dos nossos casamentos e outras coisas.
Finalmente chegamos. Quando chegamos no hotel descobri que ela, como eu, tinha optado por ficar sozinha em um quarto.
A noite, esperei ela ir para o jantar. Quando vi que ela estava chegando, feito um adolescente, fingi que nos encontramos por coincidência, mas senti que ela percebeu que eu a estava esperando. Jantamos juntos e eu a convidei pra sair um pouco e conversarmos. Ela disse que estava cansada pela tensão da viagem e que queria descansar.
Eu procurei saber qual a atividade ela tinha escolhido para dia seguinte e escolhi a mesma.
No dia seguinte esperei por ela para o café da manhã. Saímos juntos para o passeio
Após o almoço ela já estava mais solta e a senti mais confiante em minha presença.
Nesta noite após o jantar nós saímos pra caminhar um pouco. Numa linda oportunidade eu a beijei. E ela se entregou.
Começamos a ficar mais íntimos. Dois dias depois já estávamos frequentando a cama um do outro e nos amando de uma maneira tão especial que eu nunca tinha experimentado.
Tanto tempo eu esperava por isto e esta viagem que eu fiz por insistência de meu filho, tornou-se uma viagem tão especial e encantadora.
Passamos todos os dias juntos. Divertimos e rimos juntos, passeamos feito adolescentes apaixonados, conhecemos lugares maravilhosos. E o mais importante, tivemos tórridas e apaixonadas noites de amor. Eu me sentia um jovem de vinte anos.
Finalmente voltamos. Eu estava apreensivo quanto ao que aconteceria dali por diante.
Mas continuamos nos encontrando. E eu cada vez mais apaixonado. Eu, que sempre fui um homem frio e nada romântico, fazia lindas declarações de amor a ela, mandava flores, comprava presentes e mimos para encantá-la. Eu não me reconhecia. Comecei até a acreditar que almas gêmeas existem.
Um dia estávamos juntos em um restaurante e uma mulher com quem me envolvi quando ainda estava casado, mas que não via há muito tempo, chegou e veio cheia de conversa pra mim. De uma maneira totalmente inconveniente, me abraçou e beijou minha boca, sem que eu pudesse evitar.
Minha querida namorada ficou muito brava. Brigou feio comigo foi embora.
Ficamos dias e dias sem nos ver. Ela não atendia minhas ligações e nem me recebia em sua casa. Eu sentia uma saudade tão grande dela. A ausência daquela mulher me deixava sem ânimo pra nada.
Finalmente consegui falar com ela e convenci a me receber pra gente conversar.
Cheguei na casa dela. Quando entrei nos olhamos e lindamente, num ato incontido e impensado, nos jogamos nos braços um do outro. E quando percebemos, estávamos nus na cama. A gente se entregou com uma urgência e um desejo represado todos estes dias.
Saciados, apaixonados e felizes não precisamos de mais palavras.
Ela sabia que um homem que se entrega como eu me entreguei a ela não quer nem precisa de nenhuma outra mulher.
Nós nunca precisamos de compromisso, de dividir o mesmo teto, jurar amor eterno ou prometer fidelidade. Sabemos  que tudo isto está implícito.
E seguimos nossa vida nos amando, nos entregando, nos respeitando, declarando nosso amor em lindas, ardentes e deliciosas noites e dias de amor.
Foi com ela que eu conheci o verdadeiro amor e a delícia de se dar plena e intensamente.

Nádia Gonçalves
Enviado por Nádia Gonçalves em 23/12/2021
Alterado em 23/12/2021
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