Essência
-Ufa, consegui! Entre milhões eu consegui. Eu conquistei o direito de ter uma vida inteirinha para mim. Em minha volta há luz, vida, energias positivas, vim pra trazer a luz a felicidade, a cura. Eu escolhi lutar pra ter uma vida e venci. Foi minha primeira vitória, estou feliz.
-O óvulo me acolheu de braços abertos. Eu e o óvulo nos abraçamos e nos fundimos, agora somos um, um embrião de uma nova vida. A minha vida. Estou aqui, mamãe e papai ainda não sabem. Será que vão ficar felizes como eu estou feliz? Espero que sim. -Há três semanas estou aqui. Meu coraçãozinho já bate eufórico. Estou vibrando de alegria e felicidade. Minha essência é luz, brilho, amor, saúde, paz, equilíbrio, cura, dons, talentos, intuição e eu me sintonizo nessa frequência de energia. Já começo a sonhar com uma vida feliz e saudável. -Hoje minha mãe descobriu que estou aqui. Sinto que ela não gostou. Ela e meu pai estão discutindo e ela o acusa de ser culpado. Ela disse que não queria mais filhos. Eu me encolhi com medo e decepção. Fiquei um pouco desapontada, mas não diminuiu a minha euforia por ter uma vida pra mim. Sinto minha mãe nervosa. Ela fala alto e xinga muito. Será que eu sou a causa de todo esse transtorno? -Sinto que minha mãe não está bem. Está sempre triste e nervosa. Isto não é legal pra mim. Energias negativas chegam até mim e me deixam apreensiva. Por que ela não me quer? Será que depois que eu nascer e ela me ver feliz vai mudar de atitude? -Minha mãe está sempre deprimida e reclama que está passando mal. Fico triste e sinto que eu sou a causa de tudo isto. Mas em minha volta a luz está presente. Estou feliz pois meu corpinho de menina está se formando em perfeita sintonia com a luz e a felicidade. -Já estou aqui há seis meses, estou apreensiva pois sinto que minha mãe está fraca e chega poucos nutrientes pra mim. Tenho medo disso me prejudicar. Mas hoje ela está um pouco mais animada, está planejando o Natal. Eu fiquei eufórica com isso. -Já estou aqui há oito meses. Minha mãe está preparando minhas roupinhas. Lavando, passando, organizando. Eu me senti amada, querida. Fiquei feliz e cheia de luz. -Está chegando a hora do meu nascimento. Minha mãe está sempre carrancuda e se queixando de doenças. Eu me sinto um pouco culpada. -Chegou a hora. Minha mãe sente muitas dores e amaldiçoa a vida. Eu não, eu abençoo a minha vida. Dentro de poucas horas eu vou ver o mundo, vou ver minha família, meus pais. Finalmente, eu chego ao mundo. Nasci com a manhã. Com luz e sol. Estou feliz. -Já estou limpinha e vestida. Aconchegada nas minhas roupinhas. Meu pai me toma nos braços me olha e sorri, um sorriso espontâneo e verdadeiro. Eu elevo meus bracinhos na direção dele e esboço um sorriso para responder pra ele que eu também estou feliz. -Minha mãe não parece muito feliz. Não me acolhe com a mesma alegria que meu pai. Meus irmãos também não se mostram felizes com minha chegada. Mas eu estou feliz. -Estou com fome e choro para pedir o peito de minha mãe. Mas que decepção! Ela não me oferece o peito, me oferece uma mamadeira. Fico triste, mas estou com fome, aceito a mamadeira. Por que ela não quer me dar o seu leite? Será que é porque não me queria? -Eu irradio luz, mas sinto que todos naquela casa são sombrios, minha irmã me olha com inveja e raiva por eu estar ali. Ela não me aceita e sempre que chega perto de mim sinto uma energia muito negativa e me encolho ou choro. Olho em volta e é tudo muito sombrio, os meus irmãos não me recebem com alegria, mas eu não importo, eu tenho a minha vida. Eu nasci pra ser feliz, pra brilhar. Mas sinto que isto incomoda. -Eu olho pra todos com amor e tento irradiar luz para eles, mas eles não aceitam e cada vez que faço isto eles tentam ofuscar minha luz e me tornar sombria como eles. Eu vou crescendo, estou sempre alegre e sorrindo. Já estou com um ano, já começo andar e falar. Gostaria de dizer a eles que eu os amo, mas eles parecem não querer saber de amor, só de amargura e sombras. Vou me apegando ao meu pai que me trata com carinho que me pega no colo e brinca comigo. -Já estou com dois anos. Sou muito sozinha. Minha luz incomoda minha família e eles não interagem muito comigo. As vezes fico muito triste. Hoje minha mãe teve uma crise nervosa e eu fiquei assustada, ela xingava muito e me xingou também. Fiquei muito triste e chorei baixinho. Fiquei encolhida num canto, amedrontada e assustada. Então chegou um Homem perto de mim e passou a mão em minha cabeça. Eu assustei e me encolhi ainda mais. Ele então me disse: “Não tenha medo, sou seu amigo e vou lhe proteger sempre que você precisar. Pode confiar em mim.” Ele irradiava uma luz linda e uma energia positiva. Eu sorri para Ele e peguei sua mão. -Tenho quatro anos. Hoje é Natal. Estou feliz, sei que vou ganhar um presente. Estamos reunidos, minha irmã começa a fazer pirraça comigo, ela não me deixa em paz. Eu tento ficar longe mas ela continua. Eu perco o controle e começo uma birra. Minha mãe se descontrola do nada e me pega e começa a me bater com uma fúria assustadora. Eu choro muito, meu pai assiste a tudo sem coragem de me defender até que minha mãe para de me bater. Eu ainda chorando baixinho sento no chão da sala escura e fico sozinha, triste, revoltada. Ninguém vem me consolar. Até que meu Amigo chega com uma luz linda e me pega no colo. Ficamos os dois sentados no chão. Eu digo pra ele que eu sou uma garota muito má. Digo que a partir de hoje eu vou ser uma garota boazinha e obediente e que nunca mais vou pedir nada e nem querer nada. Digo que tenho que apagar meu brilho para não incomodar ninguém e que tenho que ocultar minha alegria para não agredir a tristeza desta família. Digo que eu vou me fechar e ficar calada para não apanhar nunca mais. Meu Amigo afaga meus cabelos, ilumina meu rosto com sua luz e seca minhas lágrimas. Fala para mim que nunca ninguém vai apagar meu brilho nem me ofuscar, que minha luz e minha felicidade estão dentro de mim. Diz para mim que muitas vezes a gente tem que ficar quieto para se proteger, mas que ainda vou brilhar muito. E que Ele sempre estará do meu lado para me proteger, consolar, fortalecer, curar, iluminar. Recosto minha cabeça no braço dele e me sinto protegida. -Desde aquele terrível dia de Natal que eu sinto um desconforto no meu peito, como se uma mão estivesse apertando meu coração. Meu Amigo me diz que um dia tudo isto vai passar. -Meu brilho está mascarado, minha alegria está escondida. Por isso eu me fechei em mim mesma. Apenas sonho e crio fantasias de uma vida feliz. Quando aprendo a ler eu começo a ler vários livrinhos. Neles eu encontro a paz e a alegria que não encontro na minha vida. -Pela vida afora eu aprendi a obedecer, a me calar, a esconder meus sentimentos e a aceitar calada as broncas e humilhações. Eu me tornei fechada em mim mesma. Assim eu me machuco menos. E o meu Amigo muitas vezes vem me consolar -Eu sou inteligente e me saio bem em tudo que eu faço, apesar de todos dizerem que minha vida será sempre um fracasso pois eu não sou boa o suficiente. Mas eu mostro que não é bem assim me saindo bem na escola. Tenho poucos amigos e sou sempre arredia e fechada em mim mesma. Sou medrosa e desconfiada de tudo. -Já sou uma adolescente e minha beleza incomoda minha família. O patinho feio não pode aparecer mais que os outros, mas eu sempre chamo atenção e atraio olhares. Eu não sei lidar bem com isso e fico me sentindo desconcertada diante de olhares e palavras. Muitas vezes eu fujo das pessoas. -Começo a trabalhar e me sinto melhor, faço amigos. Ingresso na universidade e isso desperta a inveja de minha família. A desajustada não pode ser mais que os outros. Mas eu me saio bem, me formo e consigo um emprego melhor que meus irmãos. Mas como pode ser? Como aquela menina sonsa conseguiu chegar tão longe? Estou agora mais distante da família. Começo a procurar ajuda psicológica e espiritual e vou entendendo muitas coisas. -Na minha busca pelo meu eu verdadeiro e por minha espiritualidade, conheci um homem muito interessante, bom, inteligente. Nós começamos a namorar. Nos apaixonamos e seguimos juntos nossa caminhada. -Meu pai falece. Meu querido e honrado pai. Um duro golpe para mim. Mas já estou mais fortalecida e consigo lidar de uma forma razoável com a perda. -Tempos depois minha mãe falece. Mais um duro golpe. Perder a mãe não é fácil. Podia não ser a melhor mãe do mundo, mas era minha mãe querida. -Meus irmãos são muito fechados e eu mantenho apenas o contato social com eles. Convivemos de forma fraternal e nos ajudamos quando necessário, mas não somos muito próximos. -Sigo a busca da minha essência que um dia tive que camuflar, esconder bem no fundo do meu inconsciente para poder sobreviver. Com ajuda psicológica, espiritual e com a intuição, que sempre esteve presente, vou me encontrando e seguindo rumo à vida plena que no dia da minha concepção me foi dada. A cada dia vou conseguindo mais me aproximar de minha essência. -A cada dia eu me sinto melhor e mais fortalecida. Sinto que estou preparada para a vida que originalmente me foi destinada. Sigo buscando a missão que me foi reservada nesse mundo e que por certo é uma bela missão que vou acolher com amor e zelo. -Hoje sei que meu Amigo é o Divino Espírito que sempre esteve presente em mim. Finalmente encontrei meu caminho. Meu marido e eu temos nosso trabalho, mas dedicamos parte de nosso tempo livre a causas sociais com crianças. Não tivemos filhos, mas trabalhando com crianças nos sentimos pais de todas elas. Tentamos fazer o melhor para que elas se tornem adolescentes equilibrados e centrados. E a vida segue nos brindando com muito amor, luz e energias positivas. (Texto criado há alguns anos, fruto de imaginação e fantasia sobre uma vida desde a concepção até a idade adulta, quando através da busca do autoconhecimento, a personagem consegue ter uma vida satisfatória e plena. Mantive o original com pequenas alterações)
Nádia Gonçalves
Enviado por Nádia Gonçalves em 18/04/2022
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