Pecado Mortal
Dalva Albuquerque Cintra era uma empresária milionária. Era casada com Adalberto Cintra, um homem de classe média por quem ela se apaixonou e se casou apesar de toda a sua família ser contra. Adalberto viu naquela união uma chance de ascensão social e financeira. Nunca gostou de estudar e nem de trabalhar. Trabalhava na empresa da esposa sem muito entusiasmo e vivia às custas dela. Ela o vigiava de perto. Era autoritária e ciumenta. Não dava mole para o marido aprontar nem no trabalho nem fora dele.
Ela tinha dois irmãos mais novos que não tiveram competência para administrar a empresa quando o pai faleceu. Dalva então se tornou presidente e administrava com mãos de ferro. Não dava nenhuma chance aos irmãos de meter os pés pelas mãos. Com o tempo ela foi comprando as ações dos irmãos e tornou-se a maior acionista. Eles ficavam lá na empresa cada um com seu cargo medíocre, mas se roíam de inveja da irmã. O irmão do meio era Dilson, ele era casado com Simone, uma mulher linda e exuberante que gostava de se mostrar e expor sua beleza com roupas sensuais e provocantes que mostravam seu corpo escultural. A irmã mais nova era Denise, casada com Evaldo. O casal trabalhava na presidência da empresa sob a vigilância direta de Dalva. Dalva e Adalberto tinham apenas um filho, Daniel, que estava terminando seus estudos na Europa. Profissional exigente e mulher ciumenta, Dalva estava sempre atenta a tudo que se passava a sua volta. Com algumas desconfianças ela contratou um detetive que era profissional sério e confiável. Quando o detetive entregou o relatório, Dalva ficou pálida e transtornada. Ela estava furiosa, mas conseguia manter a calma na frente da família e resolveu que ia conseguir provas mais consistentes antes de confrontar os envolvidos. O tempo ia passando e ela dando corda para que eles se enforcassem. Fingia que havia relaxado a vigilância e todos iam caindo como patinhos. E finalmente Dalva convidou os irmãos e suas famílias para um jantar em sua mansão. Não adiantou o que seria comemorado, disse apenas que queria reunir a família. O jantar transcorreu normalmente. Todos bajulando Dalva e fingindo que aquela era uma família unida e feliz. Mas cada um ali tinha um motivo pra odiar Dalva. Ela pediu que todos fossem pra sala de visitas onde ela faria um anúncio. Todos ficaram apreensivos. Cada um ali tinha um segredo que não queria que Dalva soubesse e nem que fosse trazido ao conhecimento dos outros. Eles se entreolhavam e perguntavam o que podia ser. Todos tinham o rabo preso e temiam que fosse o seu segredo que seria revelado. Todos se acomodaram e Dalva pediu aos seguranças, que sempre a acompanhavam, que ficassem mais distante pois o assunto era confidencial. Quando ela começou a falar, foi atingida por um tiro que ninguém viu de onde veio. Os seguranças correram para tentar protegê-la, mas já era muito tarde. Dalva morreu. Todos se mostraram consternados, transtornados e desesperados. Quem teria feito tal coisa? A polícia chegou, fez seu trabalho. Depois dos trâmites legais ela foi velada e sepultada. O marido estava inconsolável. Parecia estar em choque. E parecia sentir muito medo. Daniel não conseguiu vir para velar a mãe. Adalberto sempre conversava com o filho e dizia o quanto estava triste e sofrendo com a morte da esposa e o quanto estava com medo de lhe acontecer alguma coisa. E pedia que ele voltasse. A polícia investigava o crime, mas não tinha muitas pistas. Mantinha a investigação sob sigilo absoluto. Adalberto, como viúvo e representante do filho, assumiu a presidência da empresa, mas não tinha muita competência para administrar os negócios. O viúvo começou a surtar e dizia que Dalva estava conversando com ele e cobrando uma atitude, que ela dizia que ele precisava vingar sua morte e colocar o assassino na prisão. Ele não aguentando mais a pressão resolveu que ia contar tudo que sabia à família e à polícia. Com medo de sofrer represálias ele chamou a polícia e a imprensa pra ouvir o que tinha a dizer. Quando todos se acomodaram Adalberto começou a falar. Mas um tiro certeiro sem saber de onde vinha atingiu seu peito. Imediatamente o delegado e os detetives se mobilizaram, mas não encontraram nenhuma pista de onde o tiro viera. O velório de Adalberto mais parecia uma festa. A família via ali uma chance de assumir a empresa e fazer o que bem entendessem uma vez que Daniel, o único herdeiro, tinha apenas vinte quatro anos e estava na Europa. Até que ele voltasse e tivesse condição de assumir tudo, eles já teriam se aproveitado da situação. De repente Daniel entra no recinto. Um silêncio absoluto de fez. -Qual é o motivo de tanta alegria? Meu pai está morto. Minha mãe também morreu há pouco tempo. E vocês nessa alegria? Peço que saiam todos. Quero ficar a sós com o corpo de meu pai. Eles saíram ainda pálidos de espanto. Daniel se aproximou e chorou a morte de seu pai e de sua mãe. Nos dias seguintes ele procurou se colocar a par de todos os negócios dos pais e foi assumindo a empresa. Herdou da mãe o tino para os negócios e sabia que se sairia bem. Em segredo procurou a polícia e contou tudo que sabia. -Minha mãe conversou comigo dias antes de morrer e me contou tudo que sabia. Ela me disse ainda onde tinha deixado as provas. Aqui estão todos os documentos. Está tudo aí, mastigado pra vocês. E tem mais, tem o que meu pai me contou. Minha mãe foi morta com uma arma da casa deles. Aqui está ela. Agora é só vocês saírem daqui e prender todos os envolvidos. Esta arma, no dia do crime, estava em posse do segurança Jonas. Eu não quero mais falar neste assunto pois me dói muito. E vocês saberão porque me dói tanto. Nesta pasta tem tudo o que vocês precisam para elucidar os crimes. Espero que façam as prisões o mais rápido possível pois se souberem que sei de tudo e que os entreguei eu corro um sério risco. No dia seguinte prenderam Simone, Evaldo e Jonas. A polícia deu entrevista à imprensa. Há alguns anos Adalberto se envolveu com sua concunhada, Simone. Eles conseguiam manter o caso em segredo até que Evaldo, por acaso, descobriu e começou a chantageá-los para desviar dinheiro da empresa. Aos poucos eles foram aumentando o desfalque e dividindo entre eles. O desfalque era feito nas compras da empresa que estavam a cargo de Adalberto. Quando foram com muita sede ao pote e começaram a aumentar o que desviavam e os lucros começaram a cair, Dalva desconfiou. E desconfiou também do caso da cunhada com o marido pois eles já não eram tão cuidadosos. Não foi difícil para o detetive descobrir tudo. Dias antes de Dalva reunir a família, Adalberto descobriu que a esposa sabia de tudo ao ouvir uma conversa dela ao telefone. Ele sabia que ela ia contar sobre o caso dos concunhados e do desfalque e os três pensavam no que podiam fazer para detê-la. Adalberto sabia que ela iria se separar dele e Simone e Evaldo também sabiam que tinham muito a perder com a revelação daqueles segredos. Simone, que já seduzira Jonas há algum tempo, o convenceu a matar Dalva. E naquele dia ele fez o serviço sujo para sua amante por quem estava totalmente apaixonado. Arrependido de tudo que fez e tendo alucinações com Dalva, Adalberto resolveu que contaria tudo à família, à polícia e à imprensa. Pensou que com a polícia no local estaria seguro, mas Simone e Jonas ousaram e o mataram também, com a cumplicidade de Evaldo. O assassino e os mandantes foram presos, julgados e condenados Adalberto pagou pelo seu erro com a própria vida. Daniel foi superando o trauma causado pela perda dos pais e por saber que seu pai estava envolvido na morte da mãe. Seguiu sua vida, tocou a empresa junto com os tios que se divorciaram e mudaram de atitude em relação ao sobrinho e à empresa. Eles se uniram para superar a dor que toda aquela história suja causou e a família se tornou amorosa e solidária. (Conto escrito a convite de Moacir Rodrigues e baseado em seus acrósticos “A Confissão de Adalva e “O Que Adalva Queria Dizer?”)
Nádia Gonçalves
Enviado por Nádia Gonçalves em 24/03/2023
Alterado em 30/03/2023 Copyright © 2023. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |