Recomeço
Lara está com os amigos em uma mesa de barzinho. Armando chega e diz:
—Oi, Lara! Podemos conversar um pouco? —Oi, Armando! Claro. Quer sentar-se? —Vamos lá fora. Tem muita gente nesta mesa. — Lara diz aos amigos que vai lá fora. Armando pergunta: —Como você está? Como está sua vida? —Estou bem e você? Cadê a namorada? Vi você com ela. –Terminamos. Não dava certo. —Sua mãe e ela queriam muito mais o namoro que você, não é? —Mais ou menos isso. Também te vi com um namorado. —Terminamos. —Soube que está cursando Bioquímica.Você nunca me disse desse seu interesse. —Tem muitas coisas sobre mim que você nunca soube. —Nunca foi falta de interesse. Foi falta de interesse seu em partilhar comigo sua vida. —Não é bem assim. E você já está quase formando em Direito? —Formo no final do ano. Quando você me deixou eu quase perdi o semestre, mas continuei e por fim isso me ajudou a não pirar. —Sinto muito, nunca quis te fazer nenhum mal. —Namoramos mais de dois anos e você nunca permitiu que eu entrasse em sua vida. —Pra que falarmos sobre isto? Foi pra isto que você me chamou pra conversar? —Não. É que já tem dois anos que você terminou comigo e eu não consigo te esquecer. —Você já namorou outras garotas. —Você também namorou. —Sim. Mas não foi nada sério. —Quando terminou comigo, pensei que ficaria com Otávio. —Não vamos falar sobre isto. Não tinha nem teria nada com ele. Ele era e é casado. —Por que me deixou então? —Eu lhe disse na época. Eu estava muito confusa, não sabia se gostava mesmo de você. —Você nunca gostou, né? Você nunca demonstrou amor por mim. —Por que ficou tanto tempo comigo se pensava assim? —Porque eu te amava e amo até hoje. Nunca consegui te esquecer. Não é fácil pra mim dizer isto, principalmente porque você continua fria como sempre. —Estamos conversando há dez minutos e você já conseguiu saber que eu sou fria? —Desculpe. Não quero te julgar. Posso te fazer uma pergunta? —Claro. —Como você se envolveu com Otávio? Você sabia que ele era casado. —É uma história complicada e eu não me envolvi com ele. Apenas conversamos. —Vocês saíram, passaram um final de semana juntos. Isto não é se envolver? —Não. Nunca houve nada entre nós além de conversa, alguns abraços e beijos. —Mas você estava namorando comigo. —Eu já me desculpei por isto e já me culpei muito também. —Conte-me esta história complicada para que eu possa entender seus motivos. —Hoje não. É uma história longa. Por que remexer nisso depois de tanto tempo? —Já disse, eu nunca te esqueci. —E o que você pretende me procurando agora? —O que eu mais quero é ter uma chance de te conquistar. —Você acha que poderia dar certo? —De minha parte, sim. —Um namoro envolve duas partes. —E você não quer, não é? Nunca gostou de mim? —Gostei. Mas não sei se seria bom pra nós dois tentar novamente. Você me perdoaria? —É por isto que quero de saber sua história. Vamos nos encontrar, sem compromisso. Se depois a gente sentir que vale a pena, a gente volta a namorar. —Vou pensar. —Está bem. Posso ligar pra você amanhã? Podemos sair? —Sim, pode me ligar. Por um tempo eles saem juntos com frequência e conversam muito. Até que têm uma conversa séria: —Lara, eu gostaria que você me contasse a história entre você e Otávio. Eu sinto que estamos nos aproximando e não quero que nenhuma sombra do passado nos atrapalhe. —Acho que você merece saber. Quando em conheci Otávio eu tinha quinze anos. Foi no ano de 1973. Eu era uma adolescente imatura e tímida, não que eu tenha mudado muito nestes sete anos. Ele se encantou por mim e eu por ele, mas eu não conseguia nem olhar nos seus olhos. E o tempo foi passando, ele me dava vários sinais de que queria mas eu não conseguia me decidir. Além do mais ele nunca foi exemplo de bom moço e minha família jamais aprovaria. E assim o tempo foi passando. Ele seguiu outros caminhos e eu também mas nunca o esqueci. Comecei a namorar com você aos dezoito anos, mas não conseguia tirá-lo da minha cabeça. Tentava, mas não conseguia. Aí ele namorou, casou, seguiu sua vida. Quando fui trabalhar naquele lugar não sabia que ele estava trabalhando lá. Ele começou a me provocar novamente. Sempre conversava comigo e me olhava com aquele mesmo olhar de quando nos conhecemos. Ele me chamou pra sair e eu fui uma vez. Eu estava encantada em viver aquilo que eu tanto sonhei, em conversar com ele, em conhecê-lo. Depois ele me chamou pra conhecer o sitio dele dizendo que queria me mostrar o lugar que fez pensando em mim. Ele sabia como me convencer. E acabamos ficando lá de sábado pra domingo. Ele dizia que queria se separar pra ficar comigo, mas eu sei que ele nunca quis se separar. E eu jamais seria a amante. Com tudo isto eu o conheci melhor e soube que ele nunca foi o que eu pensei. —Quero fazer uma pergunta. Vocês passaram a noite juntos? Ficaram juntos? Rolou alguma coisa? Sei que nem precisava perguntar, mas quero ouvir de você esta verdade. –Não ficamos juntos, eu disse que rolou apenas alguns abraços e beijos entre nós e eu me arrependo muito de ter rolado até estes beijos e abraços. Ele nunca mereceu. —Passaram a noite num sítio sozinhos e não rolou nada? —Não. Nesse ponto ele foi muito gentil e sensato, não forçou a barra. Eu não queria. —É sério? Durante todo esse tempo eu sempre imaginei que você deu a ele o que sempre recusou dar a mim. —Não dei nem a ele nem a ninguém. Continuo a mesma. Continuo virgem, se é isto que você quer saber. —Não que isto em si tenha importância pra mim. Mas pensar que você se recusou ficar comigo e ficou com ele, enquanto estávamos namorando, me deixou pra morrer. Você está falando a verdade, não é? —Por que eu mentiria? Se não voltarmos a namorar isto não teria a mínima importância e se voltarmos, um dia você descobriria a mentira. —Sim. Mas acredito em você. Eu amo você. —Sabe, o que aconteceu foi muito bom. Se não tivesse encontrado com ele, eu teria ficado com esta história em minha mente e em meu coração, pensando que poderia ter sido um lindo amor. Mas eu o conheci e soube que ele não é o príncipe encantado que imaginei. Ele tem vícios, tem fraquezas, é imaturo, é covarde. E assim eu me desencantei, tirei a fantasia de mim. Muitas vezes me arrependi de ter terminado com você. —Você quer tentar novamente? —Você me perdoa pelo que eu te fiz? —Já perdoei. Não precisamos nunca mais falar nesse assunto. —Então acho que podemos tentar. —Eu quero um namoro sério. Quero me casar com você. Você é a mulher da minha vida. Posso me considerar seu namorado? —Sim, agora eu estou livre de amarras do passado. Livre pra te amar. —Fico muito feliz. Foi muito boa esta nossa conversa. — olha pra ela com carinho, ela sorri. — Esse seu sorriso me derrete. — faz um carinho nela, beija-a — Quanto tempo eu esperei pra ter este beijo novamente. —Não. Você nunca teve este beijo. É um beijo totalmente novo. Aquela namorada que você teve não existe mais. Eu me libertei e quantas vezes eu quis que você me procurasse, porque eu não tinha coragem de te procurar. Meu beijo e meu abraço agora são seus por inteiro. E como você merece isso. —Você me emociona. É muito bom saber disso. Eu tinha medo de você me rejeitar novamente. Mas eu tinha que tentar porque minha vida sem você nunca teve sentido. —Vamos recomeçar, fazer algo por nós.
Nádia Gonçalves
Enviado por Nádia Gonçalves em 26/11/2024
Alterado em 26/11/2024 Copyright © 2024. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |