Nádia Gonçalves

A cada dia cresço, esclareço e me transformo em prismas de puro brilho essenciais à minha alma.

Textos

O Eremita
As chuvas de março fecham o verão e anunciam o outono que já se avizinha. Em seus potes místicos ele guarda águas destas precipitações, carregadas de boas energias e vibrações. Sobre eles impõe as mãos e faz seus rituais. A água cheia de vida repousa serenamente esperando a sua destinação.

Logo o outono se anuncia soberano trazendo transição e mudanças. Tempo de espera e contemplação, de deixar ir o que já não serve mais e se preparar para nova vestimenta, de desapego e compreensão de si mesmo, tal qual a natureza. O tempo muda, torna-se mais ameno, o céu torna-se mais azul nas manhãs e vermelho no crepúsculo.

E vem maio, suave brisa nas manhãs, céu muito azul e limpo. Mês da vitalidade e do feminino. Uma explosão de alegria nos corações e na natureza. Plantas se enchem de fertilidade e se enriquecem em suas propriedades. Aparentemente adormecidas, estão em frenética mudança, gestando o novo.

O Eremita sai aos campos em busca de vida, de encantamento, da cura. Pede licença à natureza para a busca, acaricia as plantas e pede ajuda para sua missão. Ao tocar as plantas, se ilumina, interage. As melhores propriedades de cada planta se mostram, brilhando junto com sua mente numa explosão de luz. As plantas se oferecem com abnegação  e ele reverenciando cada uma as colhe com respeito e amor.

Em seus rituais e encantamentos, mistura a água reservada, plantas e outros elementos da natureza, criando poções, elixires, beberagens e encantamentos. Conhecimento, sabedoria e doação se misturam. Todos os elementos se integram em prol do bem, da compaixão e da caridade. Contemplação e amor se misturam.

Com capa e capuz se senta, atende aos que lhe procuram. Sua mente se ilumina e enxerga além do tangível. Vai distribuindo as poções conforme a necessidade. Físico, mental psíquico, espiritual. As pessoas chegam em busca da cura, da vida e saúde plena. Volta para seu pouso certo que sua missão se cumpre a cada dia, a cada ano, a cada estação.

O tempo passa. Em silêncio ele faz o que lhe foi destinado. Ninguém sabe muito bem quem é ele, mas sabem que ele lhes faz bem e sempre saem dali com o elixir certo. Confiam e agradecem em silêncio a obra de amor e caridade. Cada vez mais pessoas aparecem para receber o que ele tem pra lhes dar.

Eis que um dia a fila se forma e ele não aparece. Esperam, se entreolham e imaginam o que aconteceu. Voltam no outro dia e nada. Vários dias esperam por ele. Resolvem procurá-lo. Estão impacientes. Nada de encontrá-lo. Ficam decepcionados e reclamam porque o Eremita os abandonou.

Ele nunca mais apareceu, nunca mais ninguém o viu. Durante muito tempo iam procurá-lo. As pessoas reclamaram da falta de caridade dele em os abandonar. Em seu egoísmo a multidão não se importava com seu paradeiro, não se importava se estava vivo ou morto. Só queria saber do que ele podia lhe dar.
Nádia Gonçalves
Enviado por Nádia Gonçalves em 26/01/2025
Alterado em 27/01/2025
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