Nádia Gonçalves

A cada dia cresço, esclareço e me transformo em prismas de puro brilho essenciais à minha alma.

Textos

Urgência
Ele gostava de meninos e meninas. Aos trinta e sete anos ainda não tinha definido qual era a sua real preferência. Durante a vida teve namoradas e namorados. Seu coração era volúvel e quando pensava que tinha se definido, aparecia alguém que o atraía de maneira irresistível e ele trocava. Acreditava que na vida não se apaixona por um gênero, mas por uma pessoa.  No momento tinha um namorado que conheceu no local de trabalho e por quem se apaixonou perdidamente. Estavam juntos há três anos e viviam um amor intenso e que o fazia pensar que seria pra sempre.

Era tímido, tipo nerd, falava pouco e tinha dificuldades de se relacionar com as pessoas. Gostava de ficar na sua. Inteligente, culto, estudioso, se saía bem em tudo que fazia. Era diferente dos jovens de seu tempo. Não curtia balada, bebidas e drogas ilícitas nunca fizeram sua cabeça. Não era um lindo homem. Era magro e de estatura mediana. Despojado no vestir, tinha lá sua elegância e bom gosto. Era engenheiro de minas, tinha um excelente emprego onde era muito valorizado por sua competência, capacidade de se reinventar e dedicação.

E chegou por lá uma engenheira de produção. Ia ficar trabalhando um tempo ali. Quando ele a olhou algo se moveu em seu coração. Era linda mesmo com aquele uniforme. Ela examinava algumas coisas e ele a observava. Tinha cabelos pretos na altura dos ombros, lindos olhos castanhos, um rosto perfeito em tudo, corpo lindo pelo que dava pra ver. Ela saiu e ele ficou de boca aberta. E não parava mais de pensar nela. Almoçando ao lado de seu namorado o seu pensamento estava longe. Estava na bela engenheira. Ele disfarçou e  voltou ao trabalho.

Ela era uma mulher charmosa, elegante, linda, inteligente, culta e extrovertida. Aos quarenta e oito anos era divorciada, livre, independente. Trabalhava muito, gostava de viajar, mas não era muito de frequentar barzinhos e lugares da moda. Desde seu divórcio há cinco anos se sentia um tanto desiludida com os homens e preferia a solitude em sua sua casa com seus livros, músicas e filmes. Sentia-se bem assim. Quem sabe um dia as coisas mudavam, mas não fazia nada pra isso.

No dia seguinte durante o almoço eles se sentaram à mesma mesa com outras pessoas. Ele se sentia constrangido e nem conseguia falar nada. Ela conversava, ria e se comunicava com todos. Ele só observava e se sentia mal por não conseguir falar tudo o que queria, por parecer um tímido tolo. Quando ela sorriu ele se encantou com seu belo sorriso e soube que aquele sorriso ficaria gravado em sua retina. Como queria que ela o notasse. Mas estava ali encolhido no seu canto. Finalmente o almoço acabou e ele teve a oportunidade de conversar um pouco com ela.

Nos próximos dias eles trabalharam um tempo juntos, trocaram número de telefone por razões profissionais, conversaram muito sobre diversos assuntos. Ele se encantava, mas não conseguia saber se ela sentia o mesmo. O que lhe deixava um pouco triste. Tentava de alguma forma ter coragem de  se aproximar. Seu namorado notava que algo não ia bem. Ele andava triste, frio e distante. Perguntava o que estava acontecendo e ele se calava o que ocasionou algumas brigas.

Ela se sentiu atraída por aquele cara que parecia tão carente, desprotegido e necessitado de colo. Mas se sentia ridícula. Além do mais não fazia absolutamente o seu tipo. Gostava de homens atirados, decididos e mais velhos. Pensava na sua carinha de menino tímido e sorria sozinha. Seria capaz de pegá-lo, abraçar, beijar e fazer dele um homem pleno. Mas procurava pensar em outras coisas.

Finalmente ela terminou seu trabalho e não voltou mais lá. Ele ficava pensando num modo de se aproximar. Pensava nela o tempo todo e seu relacionamento acabou chegando ao fim. Livre ele tinha todo o tempo do mundo pra se apaixonar cada vez mais por ela. Na falta de coragem para procurá-la e falar do que sentia, preferiu usar de um artificio infantil e lhe mandou uma mensagem no WhatsApp, como se fosse por engano. Disparou a mensagem e esperou que ela lesse:

“Em você eu busco a paz do aconchego
Em você eu busco o abraço que que me abriga
Queria beijar seu belo sorriso, seus lábios que me encantam
Queria sentir o calor do seu corpo e inebriado me fazer homem
Queria naufragar em você, em sua beleza
Queria me embriagar no doce perfume de seu corpo
Queria me perder de amor por você
Queria morrer de paixão em seus braços
Queria o prazer de te amar todos os dias
Quero a urgência do momento presente…”

Assim que ela leu, pediu desculpas dizendo que foi um engano.
Ela riu e respondeu que não tinha problema e que certamente a pessoa a quem se destinava a mensagem ficaria feliz ao receber.
Ele aproveitou sua resposta e perguntou se podiam sair para conversar a respeito.
Mais uma vez ela riu, esqueceu que era melhor não procurar confusão pra sua vida e disse que sim.

Saíram, conversaram, se tocaram, se beijaram e engataram uma paixão daquelas que se perde o rumo e a razão. Daquelas que não se explica nem se pondera, só se vive. Não queriam saber do passado nem do futuro. Apenas viver o presente. Estavam em êxtase e isto lhes bastava.


Nádia Gonçalves
Enviado por Nádia Gonçalves em 20/02/2025
Alterado em 20/02/2025
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