Nádia Gonçalves
A cada dia cresço, esclareço e me transformo em prismas de puro brilho essenciais à minha alma.
Textos
O Sol E A Lua
Selene chegou ao observatório para presenciar, se encantar e buscar energias que o eclipse total do sol vinha trazendo. Acreditava que o fenômeno podia influenciar inícios de ciclos poderosos, viradas de destino, despertar da consciência, reinícios, além de estar carregado de energias poderosas e positivas. Ela era astróloga. Criava mapas astrais, trazia para as pessoas visões de como conduzir sua vida através da análise de sua data de nascimento. Estava empolgada e sentiu que sairia dali totalmente renovada.

Ciro chegava cheio de expectativas. Vinha buscar energias e esperava insights e mensagens espirituais. Acreditava que o eclipse trazia alinhamento de consciência e inconsciente, ampliação da sensibilidade psíquica, abertura de campos energéticos, reprogramação mental, abria portais entre mundos e transições com ciclos se encerrando e outros mais atrativos se iniciando. Era parapsicólogo. Acreditava em fenômenos paranormais e psíquicos, clarividência, estados alterados da consciência, recomeços. Estava ansioso. Entrou apressado. Queria um bom lugar e preparar-se para não perder nada. Selene também apressada esbarrou nele  que com arrogância disse:

—Não olha por onde anda?

—Desculpe. Não fiz de propósito. A última coisa que queria hoje era cruzar com alguém arrogante e mal educado.

—Você nem me conhece como pode dizer que sou arrogante? Aliás não vou ficar aqui perdendo tempo. Quero me preparar minuciosamente para ver o eclipse.

—Você é do signo de capricórnio?

—Como sabe?

—Arrogante e perfeccionista assim, só capricórnio.

—Não acredito nestas baboseiras. Prefiro coisas concretas.

—É físico?

—Errou desta vez. Sou parapsicólogo. Você com certeza é astróloga.

—Sim. Com muito orgulho. Posso fazer seu mapa astral. Poderia te ajudar a melhorar.

—Não, obrigado! Mas posso te falar de coisas concretas com relação à espiritualidade.

—Seria bem vindo. — ele saiu sem dizer mais nada.

As energias ali estavam intensas e as coincidências necessárias aconteciam. Selene foi colocada ao lado de Ciro. Ele olhou com desdém, mas não pode deixar de ver que era uma bela mulher cheia de charme e encanto. Ela olhou e sentiu-se atraída, mas preferia não se envolver com pessoas como ele.

Aos poucos um véu desceu. Apesar de ser apenas dez e trinta de uma linda manhã, parecia que a noite chegava. O Sol, tão senhor de si, ia cedendo espaço. A Lua, ousada, em silêncio o toca. O sol a beija ternamente. Nesse beijo de luz e sombra a terra se alinha. É o eclipse, o instante em que o mundo respira por dentro. Para quem olha com os olhos físicos o dia escurece, para quem olha com os olhos da alma, o invisível se abre. O eclipse não é em vão. Entra na alma e sussurra: “ É tempo de lembrar quem você é. Mesmo que para isso precise se apagar por um instante.”  Então, olhando para seu rei, a lua faz um charme, encanta e sorrindo se afasta prometendo voltar para um novo encontro. A lua segue seu caminho. O sol, cheio de sonhos, brilha mais intensamente.

—O inconsciente fala mais alto, sonhos se revelam, dons despertam, portais se entreabrem para o que foi esquecido. A intuição dança nua sob a sombra. — diz Ciro

—É o começo de algo que não se pode evitar . Ciclos se encerram sem pedir licença, o destino vira a página com mãos de sombra. A alma é levada aonde precisa ir mesmo que os pés resistam. — rebate Selene

Quando tudo terminou, Ciro sentiu uma emoção invadí-lo. Estava diferente. Selene estava deslumbrada. Sentia que algo se moveu em si. Ciro perguntou se gostou, ela disse que foi um espetáculo maravilhoso. Convidou-a para almoçar com ele. Logo ali tinha um restaurante excelente. Queria lhe falar sobre suas crenças. Sem saber porque ela o acompanhou. Conversaram por muito tempo sem ver o tempo passar. A resistência entre parapsicólogo e astróloga caíram por terra. Viram mais semelhanças que diferenças. Um beijo selou aquele encontro. Como o beijo do sol na lua.

Sentiram-se atraídos e seguiram se encontrando e um viu no outro o encanto, a beleza, o espírito e a alma. Como o significado de seus nomes, eram sol e lua. Um completava o outro em suas deficiências e emprestava luz para que brilhassem juntos. Um ajudava o outro com seus conhecimentos. A necessidade de um encontro de peles os levou a se amarem loucamente numa tarde de verão. Foi como se o sol tocasse a lua e a amasse até se perder de prazer e paixão.

Deitados lado a lado ela pensou “Até que este sol não é tão arrogante assim. E como é belo, tem luz própria. Como brilha quando faz amor. Nunca senti nada igual. Poderia ficar aqui pra sempre e não como um eclipse.” Ele pensava “Até que esta lua tem personalidade e brilho. Nem precisa de minha luz pra brilhar. Poderia estar com ela eternamente. Tomara que nosso encontro não seja um eclipse.” Eles se olharam e como se adivinhassem os  pensamentos do outro caíram na risada.

Nunca pensaram que as mudanças e energias que foram buscar naquele dia os tornassem inseparáveis. Seguiram a vida entre astros, mapas astrais, campos magnéticos consciência e inconsciente. Podiam ser diferentes como o sol e a lua, mas podiam também fazer de sua vida um eterno eclipse. Não escurecendo o dia, mas fazendo a vida brilhar.
Nádia Gonçalves
Enviado por Nádia Gonçalves em 24/06/2025
Alterado em 24/06/2025
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